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Volkswagen: seu passado, e seu presente te condenam

28.09.15 Internacional Tags:, ,

A Volkswagen do Brasil foi denunciada, através de uma representação ao Ministério Público Federal pela cumplicidade com o Estado nas graves violações de direitos humanos cometidas durante o período ditatorial de 1964 a 1985. É a primeira vez que uma empresa é denunciada por participação em crimes característicos de regimes autoritários no Brasil.

Assinada por dez centrais sindicais, as Comissões da Verdade Nacional, do Estado de São Paulo e  de São Bernardo, a Fenametro e representantes das vítimas de atos de tortura, a denúncia é baseada nas investigações feitas pelo Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical, uma iniciativa do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação, do qual da Fenametro faz parte.

Segundo o pedido, a corporação foi cúmplice e solidária ao Estado na perpetração de crimes de lesa-humanidade, portanto imprescritíveis perante o direito brasileiro e o direito internacional, motivo pelo qual devem ser reparados pela empresa mediante indenização de cunho coletivo aos trabalhadores.

A colaboração da Volkswagen com a ditadura se deu tanto com a apreensão e tortura de operários nas dependências da empresa, como através de espionagem, elaboração de listas de trabalhadores suspeitos, dossiês internos e repasse de informações para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops); assim como doações de carros e recursos financeiros para os grupos paramilitares e oficiais que atuavam na repressão.

Durante o ato de entrega da representação, militantes torturados e representantes de entidades relataram suas experiências e expectativas, especialmente em relação a justiça e reparação da Volkswagen.

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Repercussão internacional

A denúncia repercutiu em diversos portais internacionais, especialmente na Alemanha, sendo conectada com o escândalo por fraudes nos equipamentos de emissão de gases de veículos da empresa nos Estados Unidos.

De acordo com um texto produzido por Américo Gomes, da coordenação da Comissão de presos e perseguidos políticos da ex-Convergência Socialista, a grande repercussão na imprensa européia se dá pois na Europa já há jurisprudência suficiente que garante a indenização das vítimas, em razão do Holocausto, e a punição das empresas que de alguma forma participaram dele.

Américo esclarece que Hitler foi financiados por empresas nacionais e internacionais. De acordo com ele, calcula-se que 90% das empresas alemãs se beneficiaram do trabalho escravo ou semiescravo durante a Segunda Guerra. Explica ainda, que de segundo o historiador Dietrich Eichholz, o patrimônio da indústria alemã que se beneficiou com o trabalho forçado no final da guerra era 17 vezes maior do que em 1939.

A Volkswagen foi um destas empresas que colaborou com o regime nazista, chegando a produzir um protótipo de carro a pedido de Hitler e tendo quatro de cada cinco trabalhadores como escravos, solicitados diretamente de Auschwitz, em um total que chegou a 25 mil. Em 2001, indenizou algumas vítimas com US$ 6 mil a cada uma, além de doar dinheiro para o fundo de reparação.

Confira o texto completo de Américo Gomes