Relato de Pablo Ortellado sobre a manifestação contra o aumento das tarifas
13.01.16 Notícias, São PauloLeia o relato de Pablo Ortellado, filósofo e professor da USP,sobre a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus, metrôs e trens, no dia 12 de janeiro, em São Paulo, publicado originalmente no Facebook.
“Emboscada covarde. Foi assim que o governo do Estado de São Paulo preparou a ação policial para o segundo ato contra o aumento. A abordagem da polícia consistiu em suspender o direito de livre manifestação e forçar os manifestantes para uma emboscada na rua da Consolação. Desde as 16 horas não se podia chegar ao local da concentração sem contorná-lo e sem passar por revista (como foi feito quando o direito de reunião foi de facto suspenso durante a Copa do Mundo). O local da concentração (praça do Ciclista, na esquina da Paulista com a Consolação) foi cercado pela polícia por todos os lados, impedindo qualquer movimentação que não fosse a Consolação. Descendo a Consolação, todas as travessas foram fechadas e a tropa de choque estava posicionada para emboscar quem passasse por lá (como já havia ocorrido no dia 13 de junho de 2013). O Movimento Passe Livre tinha decidido ir até o Largo da Batata e resolveu manter a determinação apesar do bloqueio, para não levar os manifestantes até a Consolação onde obviamente seriam massacrados. O movimento ficou rente ao cordão policial no sentido da Rebouças e a polícia então começou a bombardear os manifestantes, gratuitamente, como se vê nessas imagens aéreas (<http://on.fb.me/1KcxYWZ> e <http://on.fb.me/1JJt6xB>) ou nesse depoimento <http://on.fb.me/1ShnQUF>. Não havia acontecido nada, a polícia apenas bombardeou uma multidão e como não havia para onde correr houve dezenas de feridos. Alguns manifestantes fugiram por onde conseguiram e foram caçados por toda a cidade, na Bela Cintra, na Consolação, na Angélica, na Sergipe, no Teatro Municipal e até mesmo na Barra Funda. Há muitíssimos relatos de feridos: e há imagens muito fortes de pessoas que sofreram ferimentos graves <http://on.fb.me/1N6nUyH>, <http://on.fb.me/1TTMjNj>, <http://on.fb.me/1P9RZP8> e <http://on.fb.me/1UNAzMF>, perderam dentes <http://on.fb.me/1RBMCPE> e tiveram fraturas expostas <http://on.fb.me/1ZjC3zp> e <http://on.fb.me/1ZjGLNR>; há ainda o dramático relato de uma mulher grávida que perdeu o bebê <http://on.fb.me/1PVPa7D>. Até as 10 da noite eram contabilizados 25 feridos no Hospital das Clínicas, 3 feridos na Santa Casa e 24 feridos atendidos na rua pelo GAPP (Grupo de Apoio ao Protesto Popular). Apesar da avassaladora evidência de abuso, o Secretário de Segurança Pública convocou uma coletiva de imprensa para dizer que a conduta da polícia foi adequada e que como o MPL não havia comunicado o trajeto, a polícia se deu o direito de defini-lo e que vai agir da mesma maneira na próxima manifestação (<http://bit.ly/1Q42QiI>). Uma jurista condenou a medida como antidemocrática e ilegal <http://on.fb.me/1N6nurS>, assim como a Anistia Internacional <http://on.fb.me/1P0ckwz>. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a presidente Dilma está demonstrando preocupação com o crescimento dos protestos contra o aumento das passagens em várias capitais brasileiras <http://bit.ly/1nhoh4F>. Não houve qualquer manifestação do governador Geraldo Alckimin ou do prefeito Fernando Haddad no sentido de rever o aumento ou de iniciar um processo de diálogo com o MPL ou a sociedade civil. A prefeitura apenas anunciou que estava buscando mediação para evitar cenas de violência <http://on.fb.me/1OhhcK7>. A postura tem sido considerada insuficiente e uma formalidade inócua por críticos nas redes sociais. O MPL já chamou uma nova manifestação para a próxima quinta-feira com duas concentrações simultâneas: no Teatro Municipal e no Largo da Batata <http://on.fb.me/1TTLEM3>.”