Foi inaugurada nesta terça-feira, 22 de dezembro, a estação Pirajá do metrô de Salvador. A inauguração finaliza a conclusão da Linha 1, com 12 km de extensão e oito estações, ao custo total de R$ 3,9 bilhões. As obras se iniciaram no ano 2000, previstas para serem concluídas em 2003 e somente em dezembro de 2015, 12 anos depois foram entregues. A Fenametro condena o esse atraso na construção do metrô e denuncia sua relação com as empreiteiras e governos envolvidos, como explicado pela reportagem do jornal Folha de S.Paulo, de segunda-feira, 21 de dezembro.
Metrô de Salvador será inaugurado com atraso de 12 anos e triplo do preço
JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
“Nunca achei que fosse demorar tanto. É quase um milagre ver a obra pronta”, diz Messias, que na última década e meia construiu fábricas, praça e casas populares.
Símbolo máximo da ineficiência em obras públicas na Bahia, a primeira linha –de 12 quilômetros– do sistema metroviário de Salvador foi concluída após 16 anos. A estação Pirajá, ponto final da obra iniciada em dezembro de 1999, será inaugurada nesta terça (22), com a presença da presidente Dilma Rousseff. Por volta das 11h (10h em Salvador), Dilma chegou à estação de metrô na cabine do maquinista ao local onde vai ocorrer a cerimônia.
A conclusão da linha é o fim de uma novela que inclui paralisações, mudanças de projeto e de contrato, greves e suspeita de superfaturamento. O trecho custou R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos, mais que o triplo dos cerca de R$ 350 milhões orçados inicialmente, e deveria ter sido concluído em 2003.
“É um momento histórico concluir esta etapa da obra que sempre foi um símbolo de corrupção, superfaturamento e ineficiência”, diz o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Carlos Martins, atual gestor da obra.
Capitaneada pela Prefeitura de Salvador até 2013, a obra foi tocada pelo consórcio Metrosal, formado pelas empreiteiras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Siemens. Desde então, o metrô foi repassado para o governo do Estado, que relicitou a obra numa parceria público-privada, vencida pelo Grupo CCR, que contratou as mesmas Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
O atual projeto prevê 42 quilômetros em duas linhas, a um custo de R$ 3,6 bilhões. A linha 1 foi inaugurada em junho do ano passado, ainda inconclusa, às vésperas das eleições. Tinha seis quilômetros e apenas cinco das oito estações previstas. O metrô de São Paulo, que começou a ser construído em 1974, tem 78 quilômetros e 67 estações.
PERCALÇOS
As querelas judiciais, a falta de repasses federais e as alterações no projeto são apontadas pelos gestores como fatores principais para o atraso e o aumento de custo. Só a construção de um elevado não previsto no projeto original resultou em gasto adicional de R$ 36 milhões.
Também houve paralisações determinadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que em 2012 detectou superfaturamento estimado em R$ 166 milhões (R$ 200 milhões em valores atualizados). Em 2010, o Ministério Público Federal já havia encontrado graves falhas, como a ausência de planilhas orçamentárias e até a suspeita de existência de um “consórcio oculto” por trás da obra.
Uma ação de improbidade denunciou as empresas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Constran, mais 11 servidores municipais e federais, por irregularidades no processo licitatório e na execução das obras. Suspensa, a ação foi retomada este ano pela Justiça Federal da Bahia.
OUTRO LADO
Em nota, a Odebrecht negou que tenha participado de consórcio oculto. Sobre a ação de improbidade, disse que as decisões judiciais ainda estão pendentes de recursos interpostos pelas partes.
A Camargo Corrêa contesta as alegações de irregularidades apontadas pelo Ministério Público Federal no contrato do metrô. A Andrade Gutierrez, a Constran e a Queiroz Galvão não quiseram comentar as investigações. A OAS não respondeu à reportagem.
Prefeito responsável pelo início da obra, o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB) diz que a evolução foi prejudicada pela retenção de recursos federais de 2000 a 2004. Ele nega problemas no projeto e credita o aumento de custos às constantes paralisações e retomadas.
O ex-prefeito João Henrique Carneiro (PR), que governou Salvador de 2005 a 2012, não atendeu a reportagem.
Editoria de Arte/Folhapress | ||