Há exatos 100 anos, ocorria na Rússia uma revolução que mudou toda a história do século XX. De um país agrário e iletrado, a Rússia se transformou, em menos de 20 anos, na segunda maior potência do mundo. Isso foi proporcionado pela mudança radical na forma de organização da economia, com o fim da propriedade privada.
Os meios de comunicação noticiam essa experiência como um episódio autoritário, responsável por diversas mortes. O que não se conta é que a grande massa trabalhadora russa daquela época se mobilizou contra a presença da Rússia na Primeira Guerra Mundial, experiência que estava matando milhares e milhares de soldados russos e causando um repúdio muito grande na população sobre a participação do país na guerra.
O que os meios de comunicação chamam de autoritarismo foi na verdade uma experiência inédita de organização do estado. O governo passou a ser organizado pelos organismos construídos nas lutas da classe trabalhadora, os sovietes.
O crescimento econômico do país, proporcionado pela planificação econômica, permitiu muitos avanços sociais, como o acesso universal à saúde, educação, moradia, transporte, esporte, lazer. E muitos avanços científicos: a União Soviética foi o primeiro país, por exemplo, a produzir e enviar o primeiro satélite artificial, o Sputnik, revolucionando a capacidade de comunicação. As mulheres assistiram conquistas inéditas, como o direito ao divórcio, ao aborto e iniciativas concretas para tirar das mulheres o fardo do trabalho doméstico, com a criação de lavanderias e restaurantes coletivos, assim como a criação de milhares de creches públicas.
Para disputar com o projeto socialista, muitos países capitalistas passaram a investir mais em direitos sociais. O estado de bem estar social europeu, com conquistas como auxílio desemprego, previdência digna, etc, foi fruto de lutas dos trabalhadores e também da disposição dos estados de disputar em qual mundo era melhor viver, no capitalismo ou no socialismo. Portanto, muitas conquistas que existem ate hoje são frutos indiretos da revolução russa.
É verdade que muitas dessas conquistas se perderam. Mas é impossível e até errado não reconhecer o legado dessa experiência histórica. Em pleno século XXI, muitas demandas sociais básicas persistem, como a fome. Os defensores do capitalismo não sustentam o discurso de que este sistema é melhor quando se deparam com realidades como a de continentes inteiros que sofrem com a falta de alimentos.
Os 100 anos da revolução russa devem servir para que todos os lutadores e lutadoras da classe trabalhadora retomem a reflexão sobre o melhor projeto de país e de mundo. A experiência socialista na Russia foi deturpada, interrompida e encerrada em 1989. Mas o mundo ainda não viu um modelo econômico que conseguisse realizar os feitos da revolução russa.