Aconteceu em São Paulo neste final de semana o Encontro Internacional de Trabalhadores e Trabalhadoras do Transporte contra a Privatização. Com a presença de 19 países de todos os continentes e representantes de diversos setores do transporte, o Encontro discutiu as experiências de cada país e encaminhou uma série de iniciativas de unidade internacional.
Antes mesmo do início da atividade um participante do Mali enfrentou o racismo da polícia brasileira. Mahamane Thienta, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários do Mali, foi detido pela Polícia Federal por 2 dias no aeroporto, sem possibilidade de contato com ninguém e suspeito de terrorismo. A Fenametro condena e acredita que a detenção de Thienta foi uma medida de racismo e xenofobia.
Os relatos no evento mostraram como são semelhantes as condições de trabalho nos meios de transporte e as estratégias da privatização, além da articulação internacional das multinacionais ligadas a este setor.
Um exemplo desta semelhança foi a explicação de Fernando Escudero, ferroviário da Espanha, que relatou uma situação idêntica a da privatização do Rio de Janeiro, na década de 1990. Em seu país, a estratégia para a privatização foi a mesma do metrô carioca, de sucateamento do sistema, demissão de funcionários e aumento da tarifa.
Situação no Brasil
As ameaças de privatização nos metrôs brasileiros foram amplamente detalhadas, com destaque aos novos anúncios de privatização no metrô e na CPTM em São Paulo e a destruição e privatização dos metrôs ligados à CBTU e a Trensurb.
Outros brasileiros presentes no Encontro, aeroviários, rodoviários e portuários, também combatem a privatização. O setor aéreo enfrenta agora uma possível abertura de 100% da aviação brasileira para o capital estrangeiro, os portuários uma desvalorização dos portos públicos e a terceirização, e os rodoviários péssimas condições de trabalho e um setor 90% privatizado.
Os demais países da América Latina presentes, Chile e Argentina, ambos com metrôs privatizados, trouxeram suas péssimas experiências com a privatização, e a necessidade de reivindicar o transporte como um direito, necessário para acesso a muitos outros.
Trabalhadores dos Estados Unidos também compareceram ao Encontro, relatando sua luta no centro do capitalismo e imperialismo. Um condutor de ônibus presente foi inclusive demitido por sua atuação sindical.
Europa, África e Ásia e suas lutas
A situação na Europa não é avança muito, com precarização do trabalho e muitos setores já privatizados. Na África e Ásia a realidade é ainda mais cruel, com ampla exploração dos trabalhadores e a privatização como uma nova forma de colonização.
Na atividade estiveram presentes trabalhadores do Brasil, Reino Unido, Chile, Botswana, Espanha, Grécia, Portugal, EUA, Libano, Namíbia, França, Senegal, Marrocos, Mali, Tunísia, Argentina, Índia, Síria e Cashimira, e Estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Piauí, Ceará, Minas Gerais, Distrito Federal e Pernambuco. Além disso, os delegados presentes eram de diferentes categorias de transporte, como metroviários, ferroviários, aeroviários, rodoviários e portuários.
O Encontro encaminhou um dia internacional de luta contra a privatização, um manifesto, uma carta de repúdio ao governo brasileiro pela detenção de Mahamane Thienta, além de diversas moções de apoio.